quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Se eu pudesse trincar a terra toda





E sentir-lhe um paladar,

Seria mais feliz um momento ...

Mas eu nem sempre quero ser feliz.

É preciso ser de vez em quando infeliz

Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,

E a chuva, quando falta muito, pede-se.

Por isso tomo a infelicidade com a felicidade

Naturalmente, como quem não estranha

Que haja montanhas e planícies

E que haja rochedos e erva ...

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,

Sentir como quem olha,

Pensar como quem anda,

E quando se vai morrer,

lembrar-se de que o dia morre,

E que o poente é belo e é bela a noite que fica...

Assim é e assim seja ...



Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos

Poema XXI" Heterónimo de Fernando Pessoa
A Pão!

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